A depressão, a microbiota saudável e o eixo intestino cérebro

Cérebro – Órgão da alma – Eu sempre digo que estar aprisionado em um cérebro doente é muito triste. Não só a depressão, mas todas as doenças do cérebro.

Muitas vezes você vê uma pessoa jovem, aparentemente saudável, bonita, cheia de vida e com uma tristeza profunda, aí você pensa que não dá para entender o que se passa com a pessoa que tem tudo na vida e ainda assim não está satisfeita. A ignorância é grande e o preconceito é doído. É preciso compreender a depressão, a ansiedade e as doenças do cérebro.

Milhões de pessoas vivem isso todos os dias e nem sequer se dão conta de que estão doentes e precisam de tratamento médico. Viver se torna um fardo e levantar de manhã é um grande desafio. A doença no cérebro, paralisa, limita, tira a qualidade de vida, impede a pessoa de seguir em frente.

Copio aqui uma frase que meu professor Fabrício Assini colocou no início do curso sobre depressão e ansiedade:

“É o cérebro que nos deixa louco ou delirante, nos inspira com horror e medo, seja noite ou seja dia...” (Hipócates séc 5 a.c.)

A nutrição tem um papel coadjuvante importante no tratamento das doenças do cérebro.

Vou falar sobre o quão importante é ter uma microbiota saudável para um perfeito funcionamento do SNC, em um outro momento falarei sobre a importância da suplementação nutricional individualizada de micronutrientes como ômega 3, vitamina D, zinco, NAC, magnésio e vitaminas do complexo B. (Firth J, 2019)

Temos várias opções de intervenções nutricionais visando a modulação intestinal do indivíduo em disbiose. Esta modulação é necessária principalmente no paciente que apresenta alguma doença do SNC, tendo em vista que a disbiose pode agravar os sintomas e o inverso, a homeostase da microbiota, pode melhorar os sintomas.

O que temos vivido hoje em dia, em tempos de Covid-19, é o aumento do estado de ansiedade das pessoas. O estresse vem de todos os lados, se não é o Covid-19, é a política ou a questão financeira pessoal e do país, e por aí vai... Temos vivido estresse crônico de todos os lados. O estresse crônico prolongado promove uma hiperatividade do eixo HPA que é o eixo tradicional da resposta endócrina ao estresse, isso irá gerar excesso de cortisol e citocinas inflamatórias. Citocinas inflamatórias, ativam o eixo HPA é uma bola de neve, um ciclo inflamatório.

Uma microbiota saudável terá o papel de ajudar na desinflamação sistêmica, além disso, 90% dos neurônios do nervo vago partem do intestino para o cérebro.

A produção microbiana de neurotransmissores representa um potencial mecanismo capaz de influenciar diretamente o cérebro e o comportamento humano (Johnson & Foster, 2018). Mesmo que a maioria dos neurotransmissores produzidos no intestino como a serotonina, dopamina e GABA, não ultrapassem a barreira hematoencefálica, outras vias alternativas de ação podem ser utilizadas, como por exemplo a utilização do nervo vago e seus neurônios aferentes. Outra opção é que seus precursores ultrapassem a barreira hematoencefálica e então serão convertidos em neurotransmissores ativos.

O papel da modulação intestinal no primeiro momento da intervenção nutricional é melhorar a absorção de nutrientes, melhorar a produção de neurotransmissores no intestino visando diminuir a inflamação sistêmica e dando ao cérebro o aporte necessário de micronutrientes para seu perfeito funcionamento.

 

Referência

Firth J, T. B. (2019). The efficacy and safety of nutrient supplements in the treatment of mental disorders: a meta-review of meta-analyses of randomized controlled trials. World Psychiatry, 308-324.

Johnson, K. V., & Foster, K. R. (Oct de 2018). Why does the microbiome affect behavior? Nat Rev Microbiol., 16(10), 647-655. doi:10.1038/s41579-018-0014-3